segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Secretário atribui alta da tuberculose no Rio à maior capacidade de diagnóstico


Padilha e Dohmann reconhecem que é necessária uma mudança de cultura na Rocinha

Por Íris Marini, Jornal do Brasil

Conforme o Jornal do Brasil divulgou em 16 de novembro,  há um aumento da ordem de 30% no número dos casos de tuberculose na cidade  do Rio de Janeiro, como admitiu o próprio secretário municipal de Saúde e Defesa Civil, Hans Dohmann, em audiência pública realizada no dia 22 de outubro, na Câmara dos Vereadores. Este aumento tem sido maior no bairro da Rocinha, na Zona Sul do Rio.

O JB informou que uma considerável parcela de moradores da comunidade da Rocinha que ainda contrai a tuberculose não segue recomendação de médicos para que seja feito o exame de escarro. Muitos sequer sabem da incidência antiga ou atual da tuberculose no bairro. 

Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a questão chave é aumentar o número de pessoas testadas pela doença. “Historicamente, antes de começar o programa de prevenção e tratamento da tuberculose nessa parceira entre o Ministério e a Prefeitura, a Rocinha já apresentava esse grave problema. O Ministério da Saúde está trabalhando para estender a adesão dos pacientes ao tratamento. Hoje, 50% dos testes são realizados. Isso corresponde a 75% acima da média mundial. O Rio tem se esforçado para a expansão do diagnóstico e da adesão”, disse o ministro, em visita, no dia 30, à Clínica da Família da Rocinha, na Mobilização Nacional de Prevenção e Testagem para Sífilis, HIV e Hepatites B e C.

Padilha vê melhora no tratamento da tuberculose e diz que há investimentos para o diagnóstico. “O Brasil atingiu metas da OMS para a tuberculose que deveriam ser cumpridas até 2015”, disse o ministro. “Realizamos uma pesquisa com profissionais da saúde no País, que reconheceram que não sabiam como realizar todas as etapas do tratamento da tuberculose em um paciente. O problema não é só do paciente, nem da Saúde. É muito importante que mudemos essa cultura”, alertou o ministro.

“O governo está investindo em novos testes de biologia molecular para diagnosticar a tuberculose, onde a sensibilidade é maior do que a Baciloscopia, exame feito no mundo todo. O exame chama-se Gino Express e vai gerar aumento no número de diagnósticos. Imagina como era há dez anos, quando não havia o diagnóstico?”, questiona o ministro.

O secretário Hans Dohmann atribui o aumento percentual ao aumento da capacidade de diagnosticar a doença. "É absolutamente esperado que haja um aumento do número de casos no Rio, já que cresceu o número de diagnósticos pela eficiência do trabalho que vem sendo desenvolvido. Isso não é um problema”, afirmou o secretário, durante a cerimônia de oficialização da transferência de tecnologia para a produção do medicamento antirretroviral Sulfato de Atazanavir, ocorrida no último dia 30.

“Estamos a 0,1% da taxa recomendada pela Organização Mundial da Saúde e, na Rocinha, o cenário é diferente do restante do município. Estamos em torno de 75% de taxa de cura da tuberculose”, alega o secretário, quando questionado sobre um possível surto da doença na comunidade. 

No entanto, quando se fala em tuberculose na Rocinha, a questão é mais complexa. Para a vereadora Andrea Gouvêa, “gastou-se um dinheirão para propagandear as clínicas da família e não se gastou um tostão para mostrar à população a gravidade da tuberculose. O perigo da tuberculose e o fato de todos ali estarem em risco é muito pouco percebido na comunidade. Há falta de ventilação, muita umidade, péssimas condições sanitárias, enfim, características propícias à disseminação da tuberculose”, explica Andrea.

Para Hans Dohmann, a mudança cultural da comunidade quanto à maior atenção com a saúde é uma questão que demanda tempo. “Infelizmente, isso é uma constante do sistema de saúde, da adesão dos pacientes, em relação à sua condição de saúde. A solução mais eficaz tem sido a presença de agentes de saúde indo, de casa a casa, cadastrar todos os moradores da Rocinha. A atenção básica é muito recente na Rocinha. Não há como mudar uma cultura de anos com rapidez”, justifica o secretário.